terça-feira, 18 de junho de 2013

Reciclar medos


O recordar um episódio doloroso do passado com alguém capaz de nos ajudar a ter uma perspectiva diferente, consegue pouco a pouco, retirar-lhe força ao recodificar a recordação perturbadora. Aquela sensação de alivio ocorre quando paciente e terapeuta revêem em conjunto um problema: a conversa só por si pode alterar a maneira como o cérebro regista o que está errado.



O medo de discursar diante de uma audiência é apenas uma das muitas formas assumidas pela “Fobia Social”. Nestes casos em que o individuo, confrontado com as multidões (na maioria) fica num estado de ansiedade devido aos pensamentos automáticos negativos.



Um “pavor do palco” pode ter uma notável força biológica. A imaginação evoca a troça de um público e logo a amígdala1 se activa fazendo o corpo responder com uma descarga maciça de hormonas de stress.


Sempre que evocamos uma recordação, neste caso stressante, ajustamos-lhes a química: da próxima vez que formos buscar, tal como a guardamos da ultima vez. Os aspectos específicos da nossa consolidação dependendo do que aprendemos ao evocál-la. Se apenas tivermos uma noção do mesmo medo, aprofundamos o nosso temor,

Se na altura de medo, dissermos a nós mesmos qualquer coisa que diminua a força, a mesma recordação é recodificada com menos poder sobre nós. Pouco a pouco, começamos a poder evocar a outrora temida recordação sem voltarmos a sentir a mesma vaga de agitação. Nesse caso, diz Ledoux, as células da amígdala reprogramam-se de tal modo que perdemos o condicionamento para o medo original. Um dos objectivos da terapia pode ser visto dessa forma, para alterar gradualmente os neurónios do medo aprendido, para este diminuir.


Por vezes, tratamento consiste em expor a pessoa precisamente àquilo que desencadeia o seu medo, o que lhe permite experimentar a fobia e, ao mesmo tempo, praticar maneiras de controlá-la. As sessões de exposição começam com levar a pessoa a relaxar, frequentemente através de alguns minutos de lenta respiração abdominal. Em seguida, o sujeito enfrenta a experiencia ameaçadora (ex. andar de elevador, andar de avião) num crescendo que culmina na em executar a tarefa completa.

A terapia de exposição para controlo da raiva funciona de uma maneira muito semelhante à de redução do medo.

Na segurança do consultório, recorremos a vários truques para recriar o mais fielmente a cena que desencadeia da ansiedade social. Embora a intesidade da exposição tem de ser mantida dentro dos limites daquilo que o paciente consegue suportar.

O recordar um episódio doloroso do passado com alguém capaz de nos ajudar a ter uma perspectiva diferente, consegue pouco a pouco, retirar-lhe força ao recodificar a recordação perturbadora. Aquela sensação de alivio ocorre quando paciente e terapeuta revêem em conjunto um problema: a conversa só por si pode alterar a maneira como o cérebro regista o que está errado.

1 – Amígdala – área em forma de amêndoa situada no mesencéfalo e que desencadeia a resposta de luta, fuga ou imobilização face a um perigo. De toda a gama de sentimentos, o medo é o que mais poderosamente a excita.

O autor de este artigo é Sónia Moura Sequeira, Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta membro da equipe do site THERAPION.COM

Para saber mais: www.therapion.com/pt